quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Poema de Amor



Se te pedirem, amor, se te pedirem 
que contes a velha história 
da nau que partiu 
e se perdeu, 
não contes, amor, não contes 
que o mar és tu 
e a nau sou eu. 

E se pedirem, amor, e se pedirem 
que contes a velha fábula 
do lobo que matou o cordeiro 
e lhe roeu as entranhas, 
não contes, amor, não contes 
que o lobo é a minha carne 
e o cordeiro a minha estrela 
que sempre tu conheceste 
e te guiou — mal ou bem. 

Depois, sabes, estou enjoado 
desta farsa. 
Histórias, fábulas, amores 
tudo me corre os ouvidos 
a fugir. 

Sou o guerreiro sem forças 
para erguer a sua espada, 
sou o piloto do barco 
que a tempestade afundou. 

Não contes, amor, não contes 
que eu tenho a alma sem luz. 

...Quero-me só, a sofrer e arrastar 
a minha cruz. 

Fernando Namora, in "Relevos"