sábado, 30 de janeiro de 2010

Luar de Janeiro...




Lua Adversa

Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles, in 'Vaga Música'







A história do Socialismo em duas imagens...


Recebi esta "piada" por mail e não resisto a partilhar...
Obrigada Albino!

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Um homem também chora.


As lágrimas, a muito esforço contidas, tinham teimado em rolar-lhe cara abaixo.

Viu o seu soluço abafado e não conteve as suas próprias lágrimas, num abraço que os tornou um só.

A dor tem regras matemáticas diferentes. Não opera nela a subtracção e, mesmo dividida, não se torna menor. Mas acrescenta e une; e ao unir faz mais forte o encargo de a suportar.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Chamo-te


Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.


Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cat Stevens..




Uma sugestão do Jorge Carvalheira. Uma excelente sugestão, até porque já apetece a Primavera!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Respiro o teu corpo


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade

sábado, 16 de janeiro de 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Revolução - Descobrimento

Imagem daqui


Revolução isto é: descobrimento
Mundo recomeçado a partir da praia pura
Como poema a partir da página em branco
— Catarsis emergir verdade exposta
Tempo terrestre a perguntar seu rosto

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Memórias ou reflexos condicionados?

Há algo de perfeitamente pavloviano que acontece desde que me lembro de mim: um cheiro evoca-me imediatamente uma situação, uma pessoa ou um local. A associação é constante e indelével.
E embora aconteça mais com cheiros, também é frequente acontecer com paisagens ou algo do género...
Este tema, por exemplo ( e assim se explica o introito ), foi-me dado a conhecer há um tempo, por alguém que fez a sua apologia com tanta emoção e beleza que me arrancou lágrimas em público. Agora, de cada vez que, de forma masoquista, vou ouvir a composição, choro copiosamente.
Pavlov explicará, ou é melhor valer-me de Freud?


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

domingo, 10 de janeiro de 2010

sábado, 9 de janeiro de 2010

A ler...

No final do longo dia 7 de Janeiro de 2010, aliás, já era dia 8, foram estas as declarações da FENPROF.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Casamentos...

Hoje faço anos de casada, 10, e congratulo-me com o chumbo do referendo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Para quem tem problemas de semântica ou de xenofobia aconselho sais de frutos.
É pelo menos lamentável que alguém se arrogue o direito de impedir direitos a outros. A xenofobia, a homofobia e todos os tipos de discriminação, além de crimes, atestam bem quanto ao desenvolvimento cultural de um povo.
E se alguém me disser que é casado, tanto se me dá que seja com um homem como com uma mulher; importa-me que as pessoas me digam, sou feliz!
Gentinha reaccionária, apre!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Pergunta-me

Imagem tirada daqui
Pergunta-me

se ainda és o meu fogo

se acendes ainda

o minuto de cinza

se despertas

a ave magoada

que se queda

na árvore do meu sangue





Pergunta-me

se o vento não traz nada

se o vento tudo arrasta

se na quietude do lago

repousaram a fúria

e o tropel de mil cavalos



Pergunta-me

se te voltei a encontrar

de todas as vezes que me detive

junto das pontes enevoadas

e se eras tu

quem eu via

na infinita dispersão do meu ser

se eras tu

que reunias pedaços do meu poema

reconstruindo

a folha rasgada

na minha mão descrente





Qualquer coisa

pergunta-me qualquer coisa

uma tolice

um mistério indecifrável

simplesmente

para que eu saiba

que queres ainda saber

para que mesmo sem te responder

saibas o que te quero dizer



Mia Couto

domingo, 3 de janeiro de 2010

Paisagem

(Barragem do Alto Rabagão - Foto de Albino Madaíl )

Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno dessa praia.

E desejei: «Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!»

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.

(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"

David Mourão-Ferreira : E por vezes...




E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.


sábado, 2 de janeiro de 2010

Ainda preciso de ti

Por do sol na ria de Aveiro, foto de Manuel da Costa


"Ainda não estou preparado para te perder
Não estou preparado para que me deixes só.

Ainda não estou preparado pra crescer
e aceitar que é natural,
para reconhecer que tudo
tem um princípio e tem um final.

Ainda não estou preparado para não te ter
e apenas te recordar
Ainda não estou preparado para não te poder olhar
ou não te poder falar.

Não estou preparado para que não me abraces
e para não te poder abraçar.

Ainda preciso de ti.

E ainda não estou preparado para caminhar
por este mundo perguntando-me: Por quê?

Não estou preparado hoje nem nunca o estarei.

Ainda preciso de ti."
(Pablo Neruda )

Carlos Drummond de Andrade : Receita de Ano Novo!


Para você ganhar
belíssimo Ano Novo cor do arco-íris,
ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior) novo,
espontâneo,
que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come,
se passeia,
se ama,
se compreende,
se trabalha,
você não precisa beber champanha
ou qualquer outra birita,
não precisa expedir
nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade,
recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro,
tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você
que o Ano Novo cochila
e espera desde sempre.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010