segunda-feira, 30 de setembro de 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Jogo



 Eu, sabendo que te amo, 

e como as coisas do amor são difíceis, 
preparo em silêncio a mesa 
do jogo, estendo as peças 
sobre o tabuleiro, disponho os lugares 
necessários para que tudo 
comece: as cadeiras 
uma em frente da outra, embora saiba 
que as mãos não se podem tocar, 
e que para além das dificuldades, 
hesitações, recuos 
ou avanços possíveis, só os olhos 
transportam, talvez, uma hipótese 
de entendimento. É então que chegas, 
e como se um vento do norte 
entrasse por uma janela aberta, 
o jogo inteiro voa pelos ares, 
o frio enche-te os olhos de lágrimas, 
e empurras-me para dentro, onde 
o fogo consome o que resta 
do nosso quebra-cabeças. 

Nuno Júdice, in "A Fonte da Vida"

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Poema de Amor



Se te pedirem, amor, se te pedirem 
que contes a velha história 
da nau que partiu 
e se perdeu, 
não contes, amor, não contes 
que o mar és tu 
e a nau sou eu. 

E se pedirem, amor, e se pedirem 
que contes a velha fábula 
do lobo que matou o cordeiro 
e lhe roeu as entranhas, 
não contes, amor, não contes 
que o lobo é a minha carne 
e o cordeiro a minha estrela 
que sempre tu conheceste 
e te guiou — mal ou bem. 

Depois, sabes, estou enjoado 
desta farsa. 
Histórias, fábulas, amores 
tudo me corre os ouvidos 
a fugir. 

Sou o guerreiro sem forças 
para erguer a sua espada, 
sou o piloto do barco 
que a tempestade afundou. 

Não contes, amor, não contes 
que eu tenho a alma sem luz. 

...Quero-me só, a sofrer e arrastar 
a minha cruz. 

Fernando Namora, in "Relevos"

sábado, 22 de dezembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

Sardinha de Consoada

    Hoje, aliás, ontem, dia 2 de Novembro, completei 24 anos de serviço. No dia 2 de Novembro de 1988, apresentei-me na Direcção Escolar do Norte para conhecer a colocação que me coubera. Nunca mais deixei de ser professora, desde então .
  Nesse ano ainda não pude oferecer presentes de Natal, só recebi vencimento cerca de três meses depois de ter começado a dar aulas.

   Este Novembro, os enfeites de Natal agridem-me como nunca me lembro. Fiquei em Agosto, não me apetecem botas nem meias, não me apetecem broas de santos nem frutos secos, estranhei os diospiros, tardei o edredon na cama, não tiro os casacos do roupeiro. Espantam-me os enfeites na rua, anacrónicos, por acender. Estão a armá-los ou a desarmá-los? Castanhas não, quero sardinhas.
   Fiquei em Agosto. Porque este ano, pela primeira vez em 23 anos, não vou poder oferecer presentes de Natal. Acho que talvez ainda dê para o bacalhau, mas apetecem-me sardinhas.
 

sábado, 14 de julho de 2012

Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.

Cecília Meireles

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Rídiculo

Acordar com a sensação do rídiculo é amargo que nem fel!
Uma vontade subita de nos esbofetearmos, de apagarmos o que ficou mal feito.
Apre!

quarta-feira, 13 de junho de 2012


    Entrada das Termas do Luso
    Foto de Albino Madaíl

Camaleão

Um adolescente assustado. Frágil, da minha estatura. Vi-te assim, no primeiro dia.
Da segunda vez eras muito maior que eu. Trazias cãs e via-se-te um sedutor.
A voz era sempre a linha guia, de outra forma não sei se acreditaria no que mostravas.
Quando vieste de novo, trazias de ambos.
Foste deixando um e outro baralhar o meu entendimento durante aquele fim de dia e início de madrugada.
Depois, não sei qual de ti me levou a ver a lua. Não sei qual de ti queria que me beijasse.
Não sei qual de ti quero que volte...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O diabo seja sur(r)do...

    Quando chega o Carnaval lembro-me sempre da Maria João que foi minha aluna em 1996 numa escola da Amadora. Era linda de morrer com a cabeça enxameada do totós coloridos e um sorriso imenso...
     Um dia destes, na caixa do supermercado, uma jovem reconheceu-me, apresentou-se como prima dela e deu-me notícias da Maria João que está a concluír o programa Erasmus em londres. Fiquei feliz e nada espantada..., era uma aluna brilhante apesar de viver uma vida onde faltava tudo.
     Voltando ao Carnaval, nesse ido ano lectivo de 96/97, estavamos a preparar o desfile da escola e a turma estava em estado de absoluta excitação. Resolvi brincar com eles e disse-lhes que já tinha havido um primeiro ministro que tinha "cancelado" o Carnaval; tinhamos de ver se não iria acontecer o mesmo...
     A Maria João que carregava na pronuncia dos erres perdeu o sorriso, bateu com a mãozinha papuda no tampo da secretária e sentenciou:

   _Ai prrofessorra, o diabo seja cego, surrdo, mudo e parralítico!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Tento na língua, senhor Passos Coelho!

Tenho 45 anos.
Comecei a dar aulas no dia 3 de Novembro de 1988, tinha feito 22 anos há menos de um mês e terminado o meu curso em Junho anterior.
Queria ser professora e, como vivia a 80 km da universidade mais próxima, optei pelo Magistério Primário já que tinha um a 7 Km de casa. Assim poupava dinheiro aos meus pais em alojamento e deslocações e, como o curso era de três anos em vez do de História que tinha quatro, começava a rentabilizar mais cedo o esforço que eles faziam na minha formação. Isto tudo pensei eu com 18 anos, acabada de concluír o 12º ano. Pensei e fiz.
Depois corri três distritos, muitas dezenas de escolas e outras tantas de Concelhos. Andei a contrato 5 anos e em congelamentos e afins já lá vão mais de 5... Acrescentei ao meu curso inicial um complemento de formação de mais 14 meses e fui considerada licenciada, pois a páginas tantas da minha carreira alguém se lembrou de impor esse requisito. Entretanto concluí o curso de Direito como estudante nocturna na FDL. Nada acrescentou à minha carreira, mas deu-me satisfação pessoal e a esperança de um dia deixar de engolir desaforos enquanto professora...
Continuo a engoli-los todos os dias: Dos alunos, dos pais dos alunos, da opinião pública em geral e sobretudo da tutela, mas já lá vamos.
Há duas gerações que ensino meninos. Ensino meninos a fazerem quase tudo, incluíndo a assoar o nariz e a dizer bom dia quando entram na sala.
Adiei a maternidade até ao limite do possível. Tive um filho aos 38 anos, quando pensei que talvez a estabilidade profissional e económica já mo permitissem.
Tive uns luxuzitos na vida: Comprei uma casa que devo ao banco e já tive três carros em 23 anos.
É verdade, já me esquecia, levei o meu filho à Disney com um subsídio de férias e, com o mesmo subsídio, costumava arrendar uma casa na Manta Rota, quinze dias todos os verões. Veleidades, devia saber que a Manta Rota é praia para gente de outro gabarito.
Sou mão de obra qualificada. Tenho duas licenciaturas e um sem número de formações.
Desde que entrei na carreira, em 1993/1994, fui sempre avaliada. É verdade, sempre avaliada! Curioso, não é?
Este ano, a caminho dos 50 anos, não posso levar o meu filho de férias para a Manta Rota pois o meu subsídio foi roubado pelo governo dos senhores de barba rija. Um bando de heróis em quem não votei, mas cujas malfeitorias tenho de suportar.
Temo que, se de repente me acontecer algo inesperado que implique dinheiro, uma doença, um problema com o carro ou com a casa, tenha de recorrer à ajuda dos meus pais. Dos meus pais, de quem me tornei independente aos 22 anos.
Sei também que cerca de 40% dos meus colegas de profissão estão em situação pior que a minha, pois não têm qualquer vínculo. E não ignoro que uma grande percentagem da população deste país, se encontra no limiar da pobreza.
Por isso, senhor Passos Coelho, tenho perdido o sono e cada vez tenho menos vontade de aturar desaforos; cada dia é mais difícil levantar-me para ir trabalhar!
Por isso é que lhe digo, com todo o respeito que me merece a senhora sua mãe que não conheço de lado algum, vá para a puta que o pariu mais a conversa dos "piegas", seu palhaço sem vergonha !

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Vergonha de país!

Agora mesmo, à porta do supermercado aqui ao fundo das minhas escadas, um homem esquálido, de roupas escassas, encostado à ombreira da porta, exibia na mão alguns sacos de plástico abertos. Não pedia, não os impunha às pessoas, como aqueles voluntários que costumam estar nas entradas dos hipermercados, mal se dava por ele, ali, com todos os sacos amarrotados e vazios.
Com o meu filho pela mão, em ...busca de lugumes para a sopa do jantar, temi perguntar. Meio a medo, meio envergonhada, fui recolhendo mais alguns produtos do que aqueles que procurava e expliquei ao pequeno rapazinho curioso que talvez aquele senhor que estava à porta, precisasse de uma pequena ajuda nossa.
À saída, temendo não sei bem o quê, perguntei ao homem da porta se precisava de ajuda e, sem esperar resposta, estendi-lhe um saco.
Sorriu-me num sorriso só de ossos, desejou sorte e bom natal.
A caminho do elevador o meu filho disse-me, "Fizemos uma boa acção hoje, mãe"
Não filho, não fizemos. Uma boa acção só fará quem fizer com que ninguém precise nunca mais de pedir comida na porta de um supermercado. Se calhar, nós só adiamos a hipótese dessa boa acção acontecer mais rapidamente.
Merda para isto pá! Senhores governantes passados e presentes, já me estragaram mais um dia!
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sábado, 25 de junho de 2011

Os Mostrengos que querem as Belas!

Ultimamente tenho reflectido sobre aquilo que eu chamaria de "má consciência da auto estima masculina". Não será mal de monta, mas tem-me trazido irritada. Passo a explicar:
Imaginem vocês uma mulher feia. Visualizem a fealdade... Agora imaginem a mesma mulher a tentar conquistar um Adónis qualquer, aí da moda ou do cinema... Impossível imaginar, certo?
Pois claro que é impossível! Uma senhora do tipo, digamos, da Susan Boyle, sabe, claramente sabido, que é perda de tempo pensar que consegue chegar ao coração de um tipo como o David Hasselhof. Chega-lhe ao ouvido e é um "pau para um olho"; além disso, nem todas as feias têm dotes canoros excepcionais, pelo que a Boyle até é uma privilegiada.
Já com os homens as coisas são bem diferentes. É vê-los por aí, despudoradamente feios, a fazerem o pino para atraír a atenção das mais belas entre as belas.
Vejo amigas bem parecidas, perseguidas por quasimodos alegretes, quase todos os dias e isso intriga-me!
Porque é que um tipo feio não tem qualquer contenção perante uma mulher bonita e o contrário é praticamente regra?
O que faz um monstro achar que pode ter a bela?
Deve haver razões fisiológicas explicadas pela diferença de género, mas ao caso também não será alheio o imaginário colectivo, desde os desenhos animados até sei lá onde...
Afinal, o Shrek ficou com a princesa, o Monstro conquistou a Bela, o King Kong ( versão moderna ) partiu o coração da actriz e até o canastrão do Mickey Rourke se atracou à Kim Basinger, para já não falar daquele outro moço que conseguiu ficar com as pernas da mulher de vermelho, Kelly LeBrock, se bem me lembro...
Para quando uma atitude pedagógica que faça os modelos dos machos perceberem, que um tipo feio, tal como uma tipa feia, têm que se contentar em jogar com equipas do seu campeonato? Vamos lá pensar nisso que já não se aguentam, as investidas dos feiinhos!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sem vergonha

Miguel Portas apresentou ao parlamento europeu, uma proposta de lei que visava a alteração dos critérios para as viagens de avião dos eurodeputados. Resumidamente, pretendia-se que as viagens até 4 horas passassem a ser feitas em classe turística; no caso português, uma viagem Lisboa-Bruxelas ficaria por um terço do preço  que custa em classe executiva.
A proposta foi chumbada por uma maioria esmagadora...
A votação dos eurotugas é muito interessante, mormente se nos recordarmos que na mesma semana o país foi dado como falido!
Bem sei que as despesas de duas dezenas de finórios, talvez não sejam significativas no combate ao déficit, mas a falta de vergonha é sintomática de males bem maiores...

quarta-feira, 30 de março de 2011

terça-feira, 29 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Informação inútil...

A comida demora 7 seg a passar da boca ao estômago. O cabelo consegue aguentar até 3kg. O comprimento do pénis é 3x o comprimento do polegar. O fémur é tão duro como o cimento. O coração das mulheres bate mais depressa. As mulheres piscam 2x mais os olhos. Usamos 300 músculos para manter o equilíbrio. As mulheres leram o texto inteiro... O homem continua a olhar para o seu polegar.

Jason Castro - Somewhere Over The Rainbow - Studio Version

sábado, 26 de março de 2011

Inti Illimani - El Pueblo Unido




Dedicada ao Jorge Carvalheira que me "intimou" a repristinar este blogue!

Canalhas

Até na canalhice há graus:
Um Canalha que se preze e por quem podemos apaixonar-nos, é sempre um canalha bem parecido.
Um vulgar canalha não desperta amores, não deixa saudades, é feio e tem mau hálito. As mulheres não se apaixonam por vulgares canalhas!

sexta-feira, 25 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

À rasca?




Faz cá falta a Maria Antonieta, para os mandar a todos à casa de banho!

(ilustração tirada da net)

Paisagem




Passavam pelo ar aves repentinas,

O cheiro da terra era fundo e amargo,

E ao longe as cavalgadas do mar largo

Sacudiam na areia as suas crinas.



Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,

Era a carne das árvores, elástica e dura.

Eram as gotas de sangue da resina

E as folhas em que a luz se descombina.



Eram os caminhos num ir lento,

Eram as mãos profundas do vento,

Era o livre e luminoso chamamento

Da asa dos espaços fugitiva.



Eram os pinheirais onde o céu poisa,

Era o peso e era a cor de cada coisa

A sua quietude, secretamente viva,

E a sua exalação afirmativa.



Era a verdade e a força do mar largo,

Cuja voz, quando se quebra, sobe,

Era o regresso sem fim e a claridade

Das praias onde a direito o vento corre.







Sophia de Mello Breyner Andresen

(Foto de Albino Madaíl)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Eis-me

Tendo-me despido de todos os meus mantos

Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses

Para ficar sozinha ante o silêncio

Ante o silêncio e o esplendor da tua face



Mas tu és de todos os ausentes o ausente

Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca

O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras

E o teu encontro

São planícies e planícies de silêncio



Escura é a noite

Escura e transparente

Mas o teu rosto está para além do tempo opaco

E eu não habito os jardins do teu silêncio

Porque tu és de todos os ausentes o ausente







Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Isto de ser mulher...


Uma amiga confessava-me esta semana a vontade de atirar com a toalha ao ringue...
A cada novo caso, a cada novo amor, entrega-se, dedica-se, cuida, protege, mima, oferece, preocupa-se, é solidária, em suma, ama!
Um dia destes, o útlimo "caso" dizia-lhe embevecido:
_Querida, sabes-me bem!
E fez-se luz nela. Aquela eterna falta de um não sei o quê, a sensação de que nunca nada é completo, a frustração velada de que dá mais do que aquilo que recebe, percebeu-a ela ali com toda a evidência, naquelas três palavrinhas.
E cansou-se de ser a que sabe bem, de ser a que massaja o ego, de ser a que dá.
Eu, pelo que me diz respeito, estou farta de lhe dizer, a ela e a todas as amigas com quem falo sobre o assunto:
Meninas, no amor aprendam a ser homens!