domingo, 30 de maio de 2010

SAIBA de Arnaldo Antunes com Adriana Calcanhoto


No telejornal de há pouco vi uma coisa medieval: Umas senhoras de ar muito dorido e bento, a rezar à porta da Clínica dos Arcos em Lisboa, para demoverem outras senhoras, menos dadas às dores da alma, ao sentimento e às coisas santas, de irem lá matar as crianças que trazem dentro das suas barrigas. E o grupo cantava uma ladaínha que falava de amor e luz, punham a mãozinha no coração, bramiam tercinhos cujas contas eram lágrimas azulinhas com pequenos fetos dentro e ostentavam bebés de carne e osso, como quem exibe um troféu de caça. Ao que parece já salvaram 20 fetos de morte certa e já tentaram expandir a actividade até Badajoz; a polícia espanhola é que não esteve pelos ajustes e mandou destroçar. Segundo a jornalista que assinava a peça, em Portugal não há nada que se possa fazer, pois aquelas pessoas apenas se juntam para rezar na rua.
Lembrei-me logo que há uns anos, vivia eu no Ribatejo, havia na terra um agente que ficou famoso e ganhou a alcunha de Trinitá o Justiceiro; multava quem estivesse na via pública em "ajuntamentos de mais de dois"... Ainda bem que o Trinitá se reformou e que aquelas senhoras só se juntam para rezar na rua! Se bem que tenho cá para mim que, se me lembrar de juntar uns amigos e formos de terço na mão para a 5 de Outubro, murmurar umas novenas para a Ministra de Educação caír nela e deixar de "atentar" contra os Professores e a Escola Pública, sem primeiro pedirmos autorização ao Governador Civil, não teremos tempo de completar nem a primeira avé-maria...

Extase



Não sofras mais, amor, não digas nada!
Vem comigo; eu te levo. A noite é densa
e agora a voz do mar ficou suspensa,
dolorida, vibrante, apaixonada!


Não tarda muito a luz da madrugada...
Vem comigo! Não penses!
Não se pensa !
Vem à conquista da aventura imensa,
vê, como eu vou, feliz e deslumbrada!


Um grande sonho me enlouquece e invade!
Vem procurar comigo a Eternidade
esse país tão vago, tão distante...

Vem, que eu busco o palácio da quimera,
lá, onde seja eterna a primavera,
e a voz divina das estrelas cante!

Virgínia Victorino

segunda-feira, 24 de maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Bon Jovi - Como Yo Nadie Te Ha Amado





Curioso ouvir um Bon Jovi "alatinado"...

sábado, 15 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

É urgente destruir certas palavras!

Foto de Albino Madaíl
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.




Eugénio de Andrade

Elvis Presley - Are You Lonesome Tonight (Live in 1977)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Agora mesmo

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Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também

Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele

Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se

A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen

Manuel Alegre, in "Chegar Aqui"

A 29 de Maio os Professores voltam à rua!


terça-feira, 11 de maio de 2010

Ausência

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Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'