sexta-feira, 27 de março de 2009

O país dos trauliteiros


A nossa memória colectiva ( se é que isso existe) está recheada de episódios mais ou menos hilariantes ( mas também graves ) de gente que trata com os pés e à paulada a dignidade dos orgãos de que é titular.

Recentemente temos alguns exemplos bem vivos; desde a boçalidade com que o triunvirato da educação trata os professores e os assuntos do seu magistério, passando pelo trauliteiro mor do Governo que "gosta de malhar", pela Margarida do Norte e as suas clivagens esquizóides, por aquele senhor que está há seis meses à espera de ser substituído e em meia dúzia de palavras conseguiu perder parte da enorme razão que lhe assistia, há para todos os gostos.

Confesso contudo que um dos que mais me consegue desconcertar é aquele que foi jornalista trinta anos, advogado mais de vinte e depois alguém elegeu para bastonário dos advogados!

O senhor doutor é trauliteiro até de aspecto. Mas quanto a isso estamos conversados porque ninguém se faz; o mais que se pode tentar, é atenuar algumas arestas. No caso em apreço talvez alguém lhe pudesse ensinar como moderar aquele jeito estriónico!

Vem o senhor bastonário dizer que, em nome da verdade de que se acha o guardião supremo e dono inquestionável, o caso freeport é uma enorme conspiração ( onde é que eu já ouvi isto??).

E fala, e acusa, e nomeia...

Que a carta não é anónima, que o caso começou em ano de eleições e recomeçou em novo ano de eleições, que houve reuniões com polícia, jornalistas e deputados do partido da oposição...

E o senhor bastonário diz isto tudo publicamente, não só diz como escreve, presumindo eu que, para ser bastonário da OA teve de ter lido o estatuto da OA...

Talvez não seja uma coisa que muita gente conheça mas o estatuto da Ordem dos Advogados, no que aos deveres diz respeito, é de uma minúcia quase reaccionária.

A um advogado comum, que não seja bastonário, estão vedadas uma série de possibilidades. Para poder emitir uma simples opinião publicamente, um advogado deve consultar a Ordem primeiro. Uma coisa quase medieval, se é que me entendem.

Mas eis que alguém põe finalmente um pouco de modernidade em tão arcaica instituição:

O senhor bastonário emite opinião sem ter de consultar ninguém. E emite-a sobre tudo, por regra com grande estrondo ( faz lembrar a Margarida).

O senhor bastonário, na qualidade de advogado não sei como teve acesso às informações que serviram de fundamento à opinião que agora tornou pública. O caso freeport está em segredo de justiça. Enquanto bastonário ainda menos percebo que tenha tido acesso às informações acimas referidas.

Assim, não será dispiciendo perguntar: onde diabo ouviu ou leu o senhor bastonário que a carta foi anónima a conselho da polícia? Como soube que havia um deputado nas reuniões e quem lhe contou das reuniões?

O senhor bastonário, tendo chegado a bastonário, é legítimo que se presuma seja uma pessoa isenta, inteligente, informada, bem formada, conhecedora. É absolutamente inquestionável que, na faculdade onde cursou Direito, houve uma qualquer cadeira em que algum catedrátrico dissertou horas a fio sobre a diferença entre o orgão e o titular do orgão. Não tenho qualquer dúvida de que o senhor bastonário faltou a essa aula!

É urgente que as criaturas com responsabilidade neste país sejam de outro calibre. Que percebam que não podem dizer tudo quanto lhes vem à cabeça, agora que são pessoas públicas!

Eu nem sou das que pensam que o senhor bastonário fez um frete ao senhor primeiro. Juro que não sou.

O que acho, honestamente, é que o senhor bastonário é tipo panzer desgovernado:

Não pensa, não acautela, não mostra grande sentido de responsabilidade. É o mais recente dos trauliteiros.

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