Identificado composto que mata células estaminais do cancro
Produto usado como antibiótico pode ajudar a impedir regresso dos tumores
Estão presentes nos cancros, embora em número muito pequeno. Elas podem ser responsáveis pelo crescimento de um tumor maligno e pela sua resistência à quimioterapia e radioterapia. As células estaminais dos cancros, identificadas há pouco tempo, pareciam, até agora, invencíveis. Mas uma equipa de investigadores nos Estados Unidos descobriu o seu primeiro calcanhar de Aquiles: um composto químico que as atinge de forma certeira.A equipa dirigida por Robert Weinberg e Eric Lander, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts, publicou ontem esta descoberta na edição online da revista Cell. “Não era claro que fosse possível encontrar compostos que matassem selectivamente as células estaminais do cancro. Mostrámos que isso é possível”, diz Piyush Gupta, o primeiro autor do artigo, citado num comunicado de imprensa da revista. Tal descoberta foi possível graças a um método que permitiu procurar pela primeira vez —de forma automatizada e sistemática — agentes químicos que matem as células estaminais dos cancros. O facto de estas células serem raras entre a população de células que compõem um cancro não facilitava as coisas. Esta é a faceta negra das células estaminais, que costumam ser muito faladas pelos potenciais benefícios para a saúde humana, quando se aprender a manipulá-las cabalmente, uma vez que têm capacidade de dar origem a vários tipos de células. Aproveitando esta sua faceta, espera-se levá-las a diferenciarem-se, transformando-se numa variedade de células para tratar diversas doenças. Para chegar à identificação do composto químico, os cientistas utilizaram células de cancro da mama cultivadas em laboratório e procuraram as que tinham propriedades semelhantes às células estaminais, como por exemplo a resistência aos medicamentos para o cancro. Em seguida, explica o comunicado, pesquisaram uma base de dados com milhares de compostos químicos, para tentar identificar aqueles que teriam capacidade de destruir apenas essas células parecidas com as estaminais, e não as outras células do cancro. Chegaram a uma primeira lista de 32 compostos, que foram depois encurtando, até terem apenas uma mão cheia delas, que podiam obter em quantidade suficiente para testar em células cancerosas da mama. A salinomicina, conhecida pelas suas propriedades como antibiótico, foi a vencedora. É capaz de reduzir as células estaminais dos cancros em mais de cem vezes, por comparação com um fármaco muito usado no cancro da mama (o paclitaxel). “Quando injectadas em ratinhos, as células tratadas com salinomicina tinham menos capacidade de disseminar o cancro do que as tratadas com paclitaxel”, lê-se no comunicado. “O tratamento com salinomicina também abrandaram o crescimento de tumores em animais.”Como é que este composto funciona é que ainda não se sabe, nem se chegará a ser aplicado clinicamente. Mas daqui poderá nascer uma nova forma de atacar o cancro. Este resultado sugere, escrevem os cientistas no artigo, que muitas terapias contra o cancro, que matam o grosso das células cancerosas, podem falhar porque não eliminam as células estaminais, que sobrevivem ao ataque e dão origem a novos tumores.
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