segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Partidas

Há cerca de um mês, mais coisa menos coisa, almocei na mesa ao lado de Raul Solnado. Foi no Bairro Azul, eu estava com três amigos e ele também. Apesar da proximidade, mesas quase coladas na esplanada, só me apercebi da presença do actor já o meu almoço ia a bem mais de meio. Vi-o levantar-se e senti um nó na garganta ao perceber que caminhava revelando bastante debilidade.
Não olhei mais que um breve instante, detesto aquele número do incógnito a olhar embasbacado para a figura pública. Desde ontem contudo, que penso insistentemente em algo que aliás há muitos anos me perturba as reflexões quando o assunto é a morte de alguém:
Se eu pudesse saber que aquela seria a última vez que olhava para o actor vivo, teria tido a coragem de o olhar de outra forma?
O Verão passado, quando a minha tia veio passar o habitual fim-de-semana anual a casa dos meus pais, tê-la-ia abraçado de outro modo se sonhásse que era o último abraço que lhe dava? Teria despido na hora a camisa que enverguei nesse dia e que ela tanto cobiçou, recomendando que lha guardásse quando me desgostásse dela?
Recebemos por mail, mil e um pps a dizer que devemos viver cada dia como se fosse o último; haverá alguém que se lembre de tal apelo?
Lido cada vez pior com a morte o que não é nada prudente, já que ela se vai tornando uma realidade cada vez menos distante.

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