quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Exercício de imaginação, ou talvez não


Imaginem alguém, docente do 1º Ciclo, com 20 anos de serviço, que depois de percorrer a via sacra dos contratos, de ter passado por escolas de vários Distritos, algumas a mais de trezentos quilómetros de casa, de ter tido que fixar residência distante dos seus e, para conseguir um vínculo, ter calcorreado todas as escolas de arredores de grande cidade, com as mais difíceis populações escolares e que finalmente, nos últimos três anos, alcança uma colocação como Quadro de Agrupamento a 300 metros de casa... Conseguem imaginar?

Proponho então que continuem a fazê-lo.

Imaginem agora que esse mesmo alguém, por razões familiares que se prendem com o facto de ter um filho menor num Colégio a alguns quilómetros de casa, tem necessidade de concorrer a outro Agrupamento, mais distante da sua residência, mas que tem uma Escola do 1º CEB paredes meias com o Colégio do seu filho, o que lhe é vital, até para poder poupar tempo em viagens.

Informa-se, sabe que a Escola em causa tem vagas, pensa que com a sua graduação tem todas as possibilidades de ali ser colocada. Concorre. É colocada no Agrupamento pretendido, é aliás a docente mais graduada que ali fica colocada.

Apresenta-se na sede de Agrupamento, faz a aceitação do lugar e pergunta qual será a Escola onde irá trabalhar. É informada de que só em Setembro lhe poderão dar essa informação.

Continuam a acompanhar? Ainda bem pois está quase!

Imaginem agora que chega finalmente Setembro, a Professora apresenta-se ao serviço e, depois de algumas peripécias e hesitações que já indiciavam algo de estranho, é colocada na Escola mais distante do Colégio do seu filho. Cabe aqui referir que, quando se apresentou em Junho, a Professora em causa manifestou a sua preferência e explicou as suas razões.

Cabe também sublinhar que, na Escola que pretendia, foram colocados 5 professores, todos menos graduados que ela; noutras escolas do Agrupamento, todas mais próximas do Colégio do filho, foram colocados professores contratados!

A esta altura perguntar-se-ão:

_Que pecado terá esta cometido para assim ser "tratada"?

Pois, sabe-se lá!

Talvez o pecadilho seja o facto de ser Dirigente Sindical, num Agrupamento, soube-o ela tarde demais, onde os Sindicatos são odiados figadalmente!

Mas este é só um exemplo. O pecado podia ser o facto de não se intimidar com a prepotência, ou ter um penteado que não agradásse ao Orgão de Gestão, em última análise!

O que está aqui em causa é a arbitrariedade, o abuso do poder a que este modelo de Concursos e este modelo de Gestão dão origem.

O que está aqui verdadeiramente em causa, é o perigo de vivermos num país onde os orgãos administrativos, as hierarquias, agem na certeza da impunidade, fazem o que querem, porque querem, sabendo que ninguém os incomodará por isso.

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