domingo, 27 de dezembro de 2009

Quem se deixa iludir?


Ali prostrada, sem saber o que fazer às mãos, demorava a perceber a causa daquela mágoa.

Não era só o fim que lhe doía, sempre soubera que ele chegaria mais cedo ou mais tarde, ambos tinham consciência que aquela era uma relação só com presente.

Tão pouco era a ausência; os tempos que partilharam, foram sempre recheados de distância e de silêncio. Aquela ausência que se impõe a certas relações feitas de gente a mais, e não apenas dos dois imprescindíveis.

Tinha construído dele uma imagem intangível: um homem de perfil quixotesco, um esteio de carácter, uma alma enorme, um reduto de valores.

Admirava-lhe a serenidade, a força com que parecia enfrentar as rasteiras da vida. Bebia-lhe o sentido de humor, venerava-lhe a experiência .

Construíra-o imenso e intocável, e amara essa figura como nunca havia amado ninguém.

Quando chegaram por sms aquelas duas frases vulgares e pouco verdadeiras, sentiu algo estalar dentro de si. Afinal, aquele homem que construíra, jamais acabaria uma relação como quem amachuca uma folha de papel sem préstimo. Ainda por cima mentindo.

De repente, uma ânsia de vómito fê-la ajoelhar na sanita.

Demorava a entender que a pior desilusão é aquela que assassina sem apelo nem agravo as imagens que construímos dos outros.
Poderia ter escolhido qualquer meio para lhe dizer que chegara ao fim aquele caso deles. Só não podia ter-lhe provado com duas frases, que era um miserável cobarde e mentiroso. Jamais lhe perdoaria ter desfeito num estalar de dedos, a imagem que de si guardava com tanta doçura. Jamais lhe perdoaria ter-lhe feito ver que se enganara.
Só se desilude quem se deixa iludir e era essa certeza que a apunhalava, a certeza de que fora crédula e pouco previdente.

Deixaria aquela prostração se lhe pudesse dizer:

- Afinal não és quem eu pensei, és apenas um merdas. Podes ir, não farás falta !

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas afinal, passou da terceira pessoa para a primeira pessoa???

CB

Anónimo disse...

Quem lhe fez mal?

AnaLee disse...

A história é de terceira pessoa. Mas a escriba é fraca e baralha-se.
A mim ninguém me faz mal, só a senhora ministra da Educação!