sexta-feira, 12 de março de 2010

Violência sobre Professores

Crónicas de António Avelãs


Tenho em meu poder uma carta que me foi enviada pela irmã de um professor que se suicidou.

Fui contactado por colegas de um professor a quem um aluno atirou uma cadeira.

Recebo no SPGL vários professores que se queixam da violência e da extrema indisciplina dos alunos.

Perante esta espiral o Ministério da Educação avança com medidas de reforço do poder dos directores para suspenderem mais facilmente os agressores. Como medida imediata, até pode ser adequada. Mas a questão de fundo não é essa.

É preciso recordar que o actual “estatuto do aluno” é ele próprio uma agressão aos professores. Nenhum professor que se preze recusa apoiar um aluno que por motivos justificados falta às aulas por um período prolongado. Mas um professor fica ferido na sua dignidade e no seu amor-próprio quando se vê obrigado a “dar apoio” a alunos que não vão às aulas porque não querem, ou que vão apenas para provocar e perturbar a turma. Como recompensa, exigem depois que o professor lhes dê apoio próprio, faça não sei quantas provas de recuperação (a que eles faltam…), e muito provavelmente ainda terá o encarregado de educação a pressionar e a ameaçar o professor se o não “passar”, ameaça muitas vezes apoiada pelo director e pela associação de pais. Este estatuto do aluno foi ao tempo louvaminhado como um excelente produto de Maria de Lurdes Rodrigues. A mesma equipa que propôs que os pais avaliassem os professores. A mesma cambada que inventou que os professores faltavam desalmadamente e não se interessavam pelos seus alunos. Os mesmos incompetentes que transformaram a escola numa brincadeira em que é praticamente impossível dizer a um aluno que tem de estudar (e onde, no ensino secundário, alunos, pais e directores exigem notas de 17 e 18 como quem bebe um copo de água…). Os mesmos que afastaram os professores pedagogicamente mais preparados da direcção das escolas em nome de ”lideranças” meramente administrativas e burocráticas. Os mesmos que puseram os docentes em minoria nos Conselhos Gerais…

Foi a concepção de escola como espaço sério de trabalho que foi destruída. Foi a dignidade do professor que foi espezinhada: “Perdi os professores, mas ganhei a opinião pública” — vociferou Lurdes Rodrigues, com o aplauso de um conjunto de Sousas Tavares por tudo quanto era meio de comunicação social. O resultado aí está. Eles passaram (felizmente!) e como de costume viram a sua incompetência bem agraciada. Nós, os professores, ficamos, tentando colar os cacos de uma escola que começa a não ser viável.


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