Senhora Ministra:
Tomei hoje conhecimento da sua nova medida de promoção do sucesso escolar. De facto, parece-me o ovo de Colombo e nem percebo como não nos lembramos todos dela antes!
Se temos um país onde ensinar é cada vez mais difícil pois aprender tornou-se coisa coisa desnecessária e opcional, porque não atalharmos caminho e permitirmos a quem não tem qualquer interesse em andar na escola, que chegue logo ao fim, "sem passar pela casa de partida"?
Na verdade e ao contrário dessas vozes chatas do costume, parece-me uma decisão que tem muito mérito; poupa dinheiro dos contribuintes, pois permite que os eternos cábulas acelerem e deixem de andar na escola a consumir recursos; poupa os nervos dos professores pois assim se veêm livres de elementos perturbadores que só causam confusão; deixa as turmas mais leves, o que permitirá certamente poupar muito dinheiro...
Só tenho um reparo, senhora ministra, e é essa a razão da minha missiva:
O facto de a medida se aplicar apenas a quem esteja a frequentar o 8º ano parece-me muito restritivo. A bem do princípio da igualdade, consagrado no artº 13º da CRP que por enquanto vigora, peço-lhe que reconsidere e retire da sua proposta o requisito em causa.
É que, veja bem, senhora ministra, eu tenho um aluno matriculado no 3º ano ( a antiga 3ª classe, como penso que saiba) que tem 15 anos feitos. É uma criança (!!) com pouca motivação, até costuma ir a conduzir para a escola pois tem alguma preguiça de andar a pé!
Por regra costuma insultar e agredir colegas e professores, mas a psicóloga da minha escola encontra-lhe potencial pois, quando ele se ofereceu para me furar os 4 pneus, ela achou louvável o facto de ele ter discernimento para perceber que os pneus são quatro e não três, ou cinco...
Vá lá senhora ministra, a senhora parece-me uma pessoa com bom senso e vontade de deixar obra, permita lá que o rapaz vá para o 10º ano! Eu prometo-lhe que continuarei a tentar que ele consiga reconhecer as letras do nome próprio! Para assinar o exame...
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